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O QUE É SABER UM IDIOMA?

Anos atrás, quando me interessei pelo estudo de idiomas, pesquisei diversos métodos de aprendizado, técnicas de memorização, formas de fixar a gramática etc.. Meu foco nunca foi a fala, pois meu objetivo não era o turismo, nem sequer a comunicação. Meu foco era a leitura, sempre foi. Era poder ler livros que eu gostava em seu idioma original e ter acesso a uma enorme gama de material inexistente nas línguas que eu sabia – mesmo no inglês!

Não demorou muito para que eu conhecesse o famoso poliglota irlandês chamado Benny Lewis. O cara deve saber pelo menos uns 10 idiomas. Ele ficou famoso por seu livro “Fluent in 3 Months” (fluente em 3 meses). Quanto à possibilidade de se ficar fluente em tão pouco tempo há fortes controvérsias. Porém não é sobre isso que quero falar aqui. O fato é que ele realmente é capaz de se comunicar em muitos idiomas. Assim como muitos outros poliglotas que se encontram facilmente por aí nas redes sociais.

Comprei meu volume do livro e dele obtive diversas dicas preciosas – as citaria aqui como estão no livro, mas o meu exemplar foi parar na mão de uma aluna e nunca mais voltou. Enfim, o que me deixou curioso foi ele ter mencionado sua experiência com o Polonês. Relata o poliglota que não sabia uma palavra sequer no tal idioma, mas, mesmo assim, ele se desafiou a entrar em uma conversa com uma nativa no primeiro dia de estudo – sim, NO PRIMEIRO DIA.

O super-poliglota Benny Lewis com seu livro “Fluent in 3 Months”.

Obviamente que a conversa foi muito curta, infrutífera e até patética. Porém, dela tirei duas lições: uma é a coragem (que aliás foi abordada num livro meu no capítulo sobre a inércia – se  você não o conhece, clique no link aqui para baixá-lo, é gratuito); a segunda foi, na verdade, antes de uma lição, a semente para uma descoberta que depois me ajudaria muito a melhorar meu desempenho em meus estudos. Para se preparar para o “diálogo” com a nativa, ele selecionou algumas frases – algumas perguntas e respostas bem básicas – tiradas de um livro sobre conversação em polonês, aprendeu a pronunciá-las e as anotou em uma colinha que ele manteve o tempo todo ao lado do monitor.

O diálogo foi isso. Algumas perguntas e respostas tiradas da colinha. Nada mais.

Bom, essa atitude simples, de tomar umas frases como cola e usá-las em uma conversa, me fez pensar sobre o que de fato é saber uma língua: “no que consiste saber uma outra língua?” Não falo sobre o conceito de fluência, de níveis básico, intermediário e avançado. Há várias classificações e testes pra isso. Pode-se fazer um teste em um lugar e ser classificado como avançado, em outro, como intermediário. É relativo.

Mas o que realmente importa pra grande maioria das pessoas é conseguir usar o idioma.

E pra saber um idioma, é preciso saber o que é saber um idioma. Caso contrário, vamos sempre nos esforçar na direção errada. Buscando coisas que não vão de fato nos dar o que queremos: ser capaz de usar o idioma de maneira eficiente.

Pois bem. Todo o meu trabalho no Sem Legendas é voltado para desenterrar essa raiz do problema, entende-la e expô-la de maneira clara e direta.

A título de introdução – pois o tema é complexo – compartilho agora o mais básico sobre o que é saber um idioma.

Pronto? Here it goes…

“Saber um idioma é conhecer um monte de palavras e saber como usá-las.”

É isso…

Parece simples. Até simplório. Mas é assim. Não dá pra acrescentar nada a essa definição.

Bom, em definição é simples mesmo. E até óbvio, quando a entendemos bem. Mas na prática não é tão simples assim –  infelizmente! E com o tempo de estudos e pesquisas, fui encontrando pedaços do que seria um método voltado ao ensino do idioma visto através dessa definição (thank you Pimsleur, Bodmer, Leavis… thank y’all)

A primeira parte dessa definição é a boa e velha aquisição de vocabulário. Nada demais. Há muitos exercícios realmente bons pra isso (inclusive há um artigo meu sobre isso, confira aqui).

Os dicionários são extremamente úteis para a aquisição de vocabulário, porém somente como uma ferramente auxiliar ao material principal, que pode variar desde filmes e séries até obras literárias.

A segunda parte é mais “diferente”. Não adianta nada saber um montão de palavras e não ser apto a usá-las.

Aqui que a coisa fica interessante e complexa.

Há dois níveis em que se deve saber usar as palavras. São eles:

1 – Sintático

2 – Semântico

O primeiro deles, o nível sintático, é saber colocar as palavras no lugar certo. É fazê-la se relacionar sintaticamente com as outras palavras da frase de maneira correta e coerente.

As crianças aprendem isso de maneira tentativa. Elas falam errado e um adulto as corrige. Assim elas vão “decorando”, pela tentativa e erro, a maneira correta de se colocar as palavras.

Nós, adultos, temos uma grande vantagem sobre as crianças. Como nossas faculdades racionais já estão formadas – espero que as suas estejam! –, podemos aprender isso através do estudo da estrutura da língua. Juntando isso à tentativa e erro, o processo de aprendizado de um adulto pode ser muito mais rápido e eficiente do que o de uma criança – Benny Lewis que o diga!

Meu trabalho que aborda o básico da estrutura da língua inglesa.

Aliás, justamente pensando nessa vantagem dos adultos no aprendizado de um idioma, compilei de forma bastante resumida e direta o conteúdo básico da estrutura da língua inglesa e escrevi um livro expondo-a. Você pode encontra-lo clicando aqui ou na imagem ao lado.

O segundo nível em que devemos saber usar uma palavra é o semântico. Isso significa saber qual é o peso semântico de cada palavra. Ou seja, em qual contexto ela se encaixa melhor. Qual o efeito que ela tem sobre o ouvinte. Saber reconhecer e usar figuras de linguagem em geral, uma ironia, uma hipérbole etc…

Se não dominarmos esse segundo nível, podemos usar as palavras de maneira bastante inapropriada, talvez até ofensiva: imagine um sujeito que só tenha contato com um inglês bastante formal tentando compreender e usar uma linguagem informal cheia de gírias e expressões idiomáticas, colocando palavras de origem latina totalmente fora de contexto – um dicionário, por melhor que seja, jamais vai suprir essa necessidade: o “lugar” apropriado para cada palavra e expressão.

Obviamente que o domínio de uma língua não se limita a isso, mas em essência é assim. Pode-se argumentar quanto à habilidade da escrita, mas ela mesma é derivada da capacidade de entendimento e de fala. O entendimento da língua precede o uso dela na fala e na escrita. Portanto, não é difícil de se perceber que todo o conhecimento de um idioma é construído sobre esses dois princípios “conhecer um monte de palavras e saber como usá-las”.

A gramática é o esqueleto da língua. É o que as crianças aprendem meio inconscientemente e os adultos podem aprender diretamente..

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